#04 Histórias de Uber & reflexão sobre senso comum e a ciência
- Aquino Studio

- 3 de fev.
- 4 min de leitura
Em uma das minhas corridinhas com a Uber, conheci um motorista jovem e simpático. A história que ele me contou durante o trajeto, me fez refletir sobre várias coisas. E, claro, não poderia guardar isso só para mim, então no artigo de hoje, vou compartilhar essa história e as reflexões que ela me trouxe.💖

Assim que entrei no carro, começamos a falar sobre o tempo, como geralmente acontece nas corridas (quem nunca). Passando uns minutos, ele começou a falar sobre uma de suas experiências no trânsito e sobre um acontecendo em uma de suas corridas.
Como de costume, seu celular tocou, e ele aceitou a solicitação. O local de embarque era no final de uma feira de bairro. Ao chegar, encontrou a passageira: uma simpática senhorinha cheia de sacolas.
Durante a corrida, começaram a conversar e nesse vai e vem, o motorista descobriu que ela morava no final de um escadão e, como vivia sozinha, precisaria descer muitos degraus carregando as sacolas, sem ninguém para ajudá-la.
Quando chegaram no destino, sem hesitar, o motorista se ofereceu para ajudar. Estacionou o carro, pegou as sacolas e as carregou até a porta da casa. A senhorinha, radiante de felicidade, agradeceu pela gentileza e ofereceu um café quentinho, que ele aceitou prontamente. Uma coisa eu imagino, esse dia ficará gravado na memória dele para sempre. São gestos como esse que nos mostram como a bondade ainda floresce no coração de algumas pessoas!

Esse acontecimento me fez lembrar do livro Filosofia da Ciência, de Rubem Alves.
Nesse livro, o autor fala sobre o papel do senso comum e ressalta como, muitas vezes, colocamos cientistas, profissionais e especialistas em pedestais, aceitando suas palavras como verdades absolutas, sem questionar.
Um exemplo clássico, presente no dia a dia, são os comerciais de pasta de dente. Já reparou que a maioria tem um dentista usando um jaleco branco, falando que aquela é a pasta de dente número 1 recomendada pelos dentistas? (provavelmente ela e todas as outras, né).
“O cientista virou um mito. E todo mito é perigoso, porque ele induz o comportamento e inibe o pensamento.” - Rubens Alves
Vale ressantar que, o autor, de forma alguma, desmerece o valor da ciência e dos especialistas. Pelo contrário, reconhece plenamente o quanto a sociedade progrediu graças a eles. No entanto, sua reflexão nos convida a equilibrar essa reverência com um olhar mais atento ao senso comum e ao conhecimento do dia a dia (mais conhecido como conhecimento tácito).
Em uma parte do livro, ele ilustra brilhantemente ao contar sobre a complexidade das decisões cotidianas de uma dona de casa:
“Sem saber, uma dona de casa equilibra economia, nutrição, estética, simbolismo e política em cada escolha. Ela adequa os recursos de que dispõe, em dinheiro, às necessidades de sua família, em comida. E para isto ela tem de processar uma série de informações. Os alimentos oferecidos são classificados em indispensáveis, desejáveis e supérfluos. Os preços são comparados. A estação dos produtos é verificada: produtos fora de estação são mais caros. Seu senso econômico, por sua vez, está acoplado a outras ciências. Ciências humanas, por exemplo. Ela sabe que alimentos não são apenas alimentos. Sem nunca haver lido Veblen ou Lévi-Strauss, ela sabe do valor simbólico dos alimentos. Uma refeição é uma dádiva da dona-de-casa, um presente. Com a refeição ela diz algo. Oferecer chouriço para um marido de religião adventista, ou feijoada para uma sogra que tem úlceras, é romper claramente com uma política de coexistência pacífica. A escolha de alimentos, assim, não é regulada apenas por fatores econômicos, mas por fatores simbólicos, sociais e políticos. Além disto, a economia e a política devem fazer lugar para o estético: o gostoso, o cheiroso, o bonito. E para o dietético. Assim, ela ajunta o bom para comprar, com o bom para dar, com o bom para ver, cheirar e comer, com o bom para viver.”
Quando ouvi a história sobre a senhorinha da feira, rapidamente me veio esse trecho do livro na cabeça. Quantas pessoas devem passar por situações semelhantes todos os dias? Assim como as inúmeras decisões que fazem parte da rotina de uma dona de casa, um trabalho essencial, mas muitas vezes subestimado.
Muitas vezes, depositamos nossa confiança APENAS nas opiniões de profissionais, cientistas e especialistas, esquecendo o valor do conhecimento ancestral e do senso comum, como aquela receitinha de vó para a gripe, o conselho sábio de um pai sobre controlar os gastos, ou até a gentileza de um motorista. Tudo isso carrega um saber imenso. Quando combinados, esses ensinamentos podem ser tão valiosos quanto as palavras de um executivo ou as recomendações de um cientista.
Acho que no fim, o equilíbrio mora no reconhecer que, para viver plenamente, precisamos de ambas as perspectivas: a ciência, que nos guia com precisão; o senso comum, que nos conecta à essência da vida; e a espiritualidade, que nos dá profundidade e significado. E você, já passou por alguma experiência semelhante? Conta aqui nos comentários 💬

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Aline é especialista em UX Research e criadora do Turistando por aí, uma página que combina dicas de lugares para conhecer com reflexões sobre livros e aprendizados de vida. Apaixonada por comportamento humano, filosofia, tecnologia e inovação, usa suas experiências para inspirar e conectar pessoas por meio do conteúdo.Quer saber mais? me segue @turistandopoorai




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